terça-feira, 21 de abril de 2015

O que você precisa saber sobre ANEMIA FALCIFORME


Introdução

Doença de caráter genético, descrita pela primeira vez em 1910 por Herrick, frequente, mas não exclusiva, em indivíduos de origem africana, é originada por uma mutação no cromossomo 11 que resulta na substituição de um ácido glutâmico pela valina na posição 6 da extremidade N-terminal na cadeia ß da globina, dando origem à hemoglobina S. Os eritrócitos cujo conteúdo predominante é a hemoglobina S assumem, em condições de hipóxia, forma semelhante à de uma foice – daí o nome falciforme -, decorrente da polimerização da hemoglobina S3,4.
A anemia falciforme também e conhecida, ou chamada de drepanocitose ou siclemia, é uma doença hematológica (do sangue) hereditária (genética) que causa destruição crônica das células vermelhas do sangue, episódios de intensa dor, susceptibilidade às infecções, lesões orgânicas e, em alguns casos, à morte precoce. As hemácias (glóbulos vermelhos do sangue) têm em sua composição uma proteína chamada hemoglobina, responsável pelo transporte de oxigênio dos pulmões até os tecidos.
Pessoas com anemia falciforme herdaram genes para um tipo de hemoglobina (hemoglobina S). Este tipo de hemoglobina, quando submetida a quantidades baixas de oxigênio, se “cristaliza” e se deforma, tornando a hemácia rígida e com uma aparência de foice (daí o nome falciforme). As hemácias com o formato de foice não conseguem atravessar os vasos sanguíneos do corpo com facilidade. Ao contrário, elas entopem os vasos sanguíneos, bloqueiam o fluxo de sangue, e diminuem o suprimento de oxigênio aos tecidos e órgãos.
Esta falta de oxigênio pode danificar os órgãos e membros do corpo, causando dor intensa em qualquer área afetada. Além disso, como as hemácias em foice têm uma duração menor (só 10 a 20 dias na circulação sangüínea), comparada com o período de vida de uma hemácia normal (120 dias), a anemia falciforme causa anemia crônica – níveis anormalmente baixos de hemácias. (2)
A hemoglobina, encarregada do transporte de oxigênio dos pulmões aos tecidos periféricos, é uma proteína responsável pela pigmentação vermelha do sangue e compõe-se de quatro subunidades ou cadeias (duas cadeias alfa e duas cadeias beta) e um agrupamento não protéico denominado “heme”. A troca de um aminoácido, na cadeia beta, altera as propriedades químicas da hemoglobina, que passa a ser conhecida como hemoglobulina S (Hb S). Quando desoxigenada, a Hb S polimeriza e forma longos bastonetes que alteram a forma das hemácias de bicôncavas para falciformes (em formato de foice).
As hemácias falciformes são inflexíveis. Sua forma estranha e sua rigidez celular causam viscosidade sangüínea aumentada, estase e obstrução mecânica das pequenas artérias e capilares. O sangue não consegue circular facilmente através dos vasos sangüíneos de pequeno calibre, por isso diminui significativamente o suprimento de oxigênio para tecidos e órgãos.
Em situação normal, as hemácias têm vida média de 120 dias. Ora, os glóbulos vermelhos alterados só permanecem de 10 a 20 dias no sistema sangüíneo. O resultado é um quadro de anemia classificada como hemolítica (= anemia causada pela destruição excessiva de eritrócitos), que debilita o paciente. Este, em geral, mantém níveis de hemoglobina em torno de 7 a 9 gramas por decilitro.
Fenômeno da falcização e suas consequências

Para descrever o fenômeno da falcização e as conseqüências advindas das células falcizadas é necessário recorrer ao eritrócito normal como parâmetro de comparação. O processo evolutivo que resultou na formação do eritrócito como célula especializada no transporte de gases, fez com que esta célula se tornasse discóide, bicôncava e flexível para realizar com eficiência as trocas gasosas e a permeabilidade de água e compostos iônicos. As milhões de moléculas de hemoglobinas contidas no interior de cada eritrócito normal se dispõem individualizadas e, portanto, solubilizadas no líquido intraeritrocitário. Todos esses fatores mantêm a estrutura celular, e em especial a membrana citoplasmática, saudáveis durante cerca de 120 dias.
Nos genótipos que causam a doença falciforme, e notadamente na anemia falciforme (Hb SS), as células falciformes tem suas origens determinadas na fase inicial da eritropoiese quando os proeritroblastos doentes tem em sua composição genética a lesão no gene da globina beta do cromossomo 11 (b6 Glu ® Val), sintetizando a Hb S. Portanto, durante toda a transformação e evolução das diferentes fases dos eritroblastos, as moléculas de Hb S são sintetizadas gradualmente e se ocupam do espaço intraeritrocitário. Conclui-se, assim, que as lesões dos eritrócitos falciformes têm início nas primeiras fases da sua formação, e esse fato pode ser constatado pela presença de alguns eritroblastos falcizados em sangue coletado por punção de medula óssea. Todo esse processo que ocorre de forma gradual e cumulativa causa múltiplas alterações nas moléculas de Hb S, com disfunções celulares motivadas por alterações morfológicas e funcionais desses eritrócitos, reduzindo drasticamente seu tempo de vida média para 7 a 25 dias .
Embora todos os eventos que causam a falcização nos eritrócitos contendo moléculas de Hb S com concentrações acima de 50% ocorram concomitantemente, para fins didáticos eles serão expostos em três níveis: molecular, celular e circulatório.
Nas hemácias dos pacientes com Anemia Falciforme 90% das hemoglobinas são hemoglobinas S. Quando as moléculas da hemoglobina S deixam os pulmões carreando o oxigênio, elas são enviadas ao acaso, como a hemoglobina A, mas assim que o oxigênio é liberado por essas hemácias com hemoglobina S, suas moléculas se agrupam, tomando uma forma gelatinosa, formando filamentos que alongam e distorcem a membrana da hemácia dando a ela uma forma irregular e afoiçada. Quando a célula retorna ao pulmão e recebe novamente o oxigênio a célula se torna redonda de novo, porém após sucessivos afoiçamentos as células podem permanecer afoiçada não mais voltando à forma arredondada. As células afoiçadas são endurecidas e se quebram facilmente. Elas vivem metade do tempo que uma célula normal vive.
Sua forma irregular leva a uma dificuldade para elas passarem pela rede sangüínea deslizando, e como resultado muitos pacientes sentem dores, cansaço e falta de apetite. Algumas vezes as células afoiçadas bloqueiam o fluxo de sangue aos tecidos e órgãos. Isto é chamado de crises falcêmicas e levam a dor. A dor pode ser tão intensa que leva o paciente a ficar internado.
Quando isso ocorre nos braços causa dor nos braços. Quando o bloqueio ocorre em um órgão como o cérebro ou pulmão, pode levar a lesões nesses órgãos. Devido a presença de vasos sangüíneos em todas as partes do corpo as lesões podem acontecer em qualquer local.
Diferentes situações podem levar as células com hemoglobina S a se afoiçarem. As mais comuns são: infecção, febre, exposição a temperaturas muito baixas ou muitos altas no ambiente e desidratação. Evitando-se sempre que possível estas situações a pessoa com doença falciforme pode reduzir o risco de afoiçamento de hemácias.
Manifestações clínicas da doença falciforme – Sinais e sintomas

Vaso-oclusão, necrose avascular da medula óssea (crises álgicas/síndrome mão pé/necrose da cabeça do fêmur), filtração esplênica alterada (aumento do risco de infecções por germes encapsulados), fibrose esplênica progressiva, osteomielite, síndrome torácica aguda, vasculopatia cutânea (úlceras crônicas), priapismo: ereção dolorosa e súbita do pênis causada pela baixa tensão de oxigênio, pela estase (diminuição da velocidade sanguínea) e pelo inchaço do pênis; o que cria condições para a trombose e a oclusão vascular, podendo deixar seqüelas orgânicas e causar impotência,  retinopatias proliferativas, acidente vascular encefálico, acometimento renal (tubulopatia/insuficiência renal crônica), seqüestro de glóbulos vermelhos (agudo ou crônico), crescimento e desenvolvimento puberal atrasados, hemólise, anemia (Hb entre 6 e 9 g/100 ml), hiperbilirrubinemia, icterícia e pigmento biliar, expansão da medula óssea, crise de aplasia induzida pelo parvovírus humano B19.(1) (2)
Crises falcêmicas: surtos de dor que ocorrem quando as hemácias falcêmicas entopem os vasos sanguíneos, interrompem o suprimento de oxigênio para as células daquele órgão, causando micro-enfartos, sintomas de anemia, incluindo cansaço, falta de ar, com a pele e as unhas pálidas,dores articulares que variam de leve a lancinante, icterícia (a pele e a parte branca dos olhos tornam-se amareladas), colelitíase: como conseqüência do aumento na produção de bilirrubina (fruto da destruição das hemácias), 30% a 60% dos pacientes com doença falciforme desenvolve cálculos de vesícula biliar. (2)
Diagnóstico

O diagnóstico laboratorial da anemia falciforme é feito através de eletroforese de hemoglobina, focalização isoelétrica ou cromatografia líquida de alta performance (HPLC).
Também pode-se realizar o diagnóstico durante a gestação, no pré-natal entre a 10ª a 12ª semana de gestação onde As cadeias ß globínicas são detectáveis em fase precoce da vida fetal, além do  teste do pezinho nas primeiras 24 horas de vida de um recém-nascido.(1)
Tratamento

Até o momento, não existem medicamentos que tratem eficientemente a anemia falciforme. Os tratamentos disponíveis, hoje, têm como objetivo acompanhar as condições do paciente, prevenindo complicações e diminuindo as lesões dos órgãos-alvo da doença. Episódios dolorosos podem ser tratados com analgésicos, líquidos e oxigênio. Suplementação diária de ácido fólico e início precoce de antibióticos, quando há febre, têm sido condutas comuns. Resultados satisfatórios têm sido obtidos com a administração de hidroxiuréia, um agente quimioterápico utilizado no tratamento de alguns tumores. (3)
Outras medidas que podem ser tomadas como fatores de auxilio ao tratamento e prevenção são: tratamento das infecções que são as causas mais freqüentes desencadeantes das crises de falcização. administração de ácido fólico, pois esse nutriente é muito consumido devido à hiperatividade da medula óssea. O tratamento visa assegurar que ele esteja disponível o suficiente para fabricar novas hemácias.
Uso de remédios que diminuem a viscosidade sanguínea, líquidos para a hidratação do paciente, oxigênio e medicamentos antiinflamatórios durante os episódios de crise dolorosa, transfusões de sangue para tratar a anemia e prevenir derrame cerebral, a Hidroxiuréia (Hydrea ®) em adultos parece reduzir a necessidade de transfusões de sangue, diminuindo a freqüência de síndrome torácica aguda e as crises dolorosas.
O tratamento profilático visa evitar situações que possam propiciar as crises de falcização e inclui: profilaxia das infecções, principalmente respiratórias (ao menor sinal de resfriado comum). É feita através da vacinação contra a pneumonia pneumocócica, o Haemophilus Influenzae, a hepatite e a gripe, evitar desidratação, tomar ácido fólico diariamente, evitar situações de stress e atividade física excessiva, evitar queda da pressão arterial (hipotensão), seja por desidratação como por sangramento, evitar transfusões desnecessárias que possam aumentar a viscosidade sanguínea, exames com oftalmologista de rotina para descobrir precocemente anormalidades que podem ser tratadas com a coagulação a laser e outros tipos de cirurgia ocular para prevenir a perda da visão, educação do paciente e da família, prevenir o alcoolismo.
Para algumas crianças com anemia falciforme, o transplante de medula óssea pode curar a doença. Porém, este é um tratamento de alto risco, principalmente usado naqueles com sintomas mais graves.
Fonte: Portal Fisioterapia e Biomedicina
Bibliografia:
1.      http://www.scielo.br/pdf/jped/v80n5/v80n5a04.pdf – acessado em 03 de maio de 2.009
2.      http://www.policlin.com.br/drpoli/103/ – acessado em 03 de maio de 2.009
3.      http://www.lincx.com.br/lincx/saude_a_z/outras_doencas/anemia_falciforme.asp – acessado em 03 de maio de 2.009
4.      http://www.scinfo.org/Brazilppt/BrazilPatientInfo.htm – acessado em 03 de maio de 2.009

5.      http://www.hemoglobinopatias.com.br/d-falciforme/fisio-falci.htm – acessado em 03 de maio de 2.009

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